segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Era uma vez um Natal antigo...


Da cozinha exala um doce aroma de canela, de cravo e de baunilha, provocando nostálgicas lembrança nos adultos e agitando a imaginação das crianças. Aproximava-se o Natal com suas cores, seus odores e suas lindas canções.
A pequena livraria da esquina expõe, em um armário com laterais e portas de vidro, lápis de cor da marca Faber, canetas automáticas Parker, pastas escolares de uma e duas repartições em couro marrom e preto, ao lado da caixa registradora há um cartaz colorido com os dizeres de Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
A lojinha do bairro, que vende fazendas e miudezas, “arma” a vitrine com um pequeno pinheiro enfeitado com frágeis bolas coloridas e nas pontas dos galhos é posto algodão para dar a idéia de flocos de neve, como se vê nas revistas com ilustrações européias. Mas o maior atrativo para a garotada é a vitrine do Bazar de Variedades: com os olhinhos brilhantes e o nariz colado contra o vidro, os meninos, de calças curtas e suspensório, de joelhos esfolados e cabelo cortado rente, olham enlevados o caminhão de bombeiro vermelho vibrante, a bola de futebol de borracha, as bolinhas de gude coloridas, os piões de madeira. Depois chegam as meninas, de vestido de pique com laço nas costas, franjinha à altura dos olhos e tranças presas com fitas coloridas, sapatos de fivela e meias brancas. Também elas encostam o nariz no vidro da vitrine e ficam fascinadas pelo berço de vime, o bebê de celulóide, e a maior atração está exposta no centro: a grande boneca de louça vestida de noiva.
O armazém de uma porta só anuncia em um quadro de lousa escrito com giz ter recebido nozes, avelãs e passas de uva branca e preta, marmelada e goiabada em lata e os biscoitos sortidos da Duchen, para presente.
A tão esperada “grande noite”, ou “noite feliz”, vai chegando. As crianças conferem diariamente a vitrine do Bazar de Variedades, e constatam que há alguns piões e bolinhas de gude a menos, mas o caminhão de bombeiro e a bola de futebol continuam expostos, assim como a fascinante boneca vestida de noiva.

Era calma e simples a época de Natal no bairro em que vivi minha infância. Todos os vizinhos se conheciam e se cumprimentavam ao se encontrarem, especialmente em épocas festivas. Não lembro de ter visto nenhum dos meninos de nossa rua brincando com o atraente carro de bombeiro, tampouco minhas amigas, incluindo a mim, teve a esperada surpresa de ganhar a boneca vestida de noiva. Mas estas pequenas expectativas não consumadas, logo eram esquecidas.
O Natal da minha infância tinha biscoitos de canela e de mel com cobertura branca... as crianças se alegravam com simples bonecas de pano, celulóide ou porcelana, com bolinhas de gude, pião, bola de borracha. O que importava era a surpresa.
Nos natais antigos, havia música no ar... era a época mais linda do ano com suas cores, seus odores e suas lindas canções.
- Elaine Ikkert Stahlhoefer -

2 comentários:

Imaculada disse...

Tetê querida!
Que delícia ler esse texto.
Realmente era bem assim...
Da uma saudade gostosa.
Abraços!Uma semana abençoada pra ti

... Morgana disse...

Olá dinda! Pensei que tinha perdido o meu blog... graças a Deus, recuperei! Esse seu cantinho continua muito bom! Beijos cintilantes. Morgana