Da cozinha exala um doce aroma de canela, de cravo e de baunilha, provocando nostálgicas lembrança nos adultos e agitando a imaginação das crianças. Aproximava-se o Natal com suas cores, seus odores e suas lindas canções.
A pequena livraria da esquina expõe, em um armário com laterais e portas de vidro, lápis de cor da marca Faber, canetas automáticas Parker, pastas escolares de uma e duas repartições em couro marrom e preto, ao lado da caixa registradora há um cartaz colorido com os dizeres de Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
A lojinha do bairro, que vende fazendas e miudezas, “arma” a vitrine com um pequeno pinheiro enfeitado com frágeis bolas coloridas e nas pontas dos galhos é posto algodão para dar a idéia de flocos de neve, como se vê nas revistas com ilustrações européias. Mas o maior atrativo para a garotada é a vitrine do Bazar de Variedades: com os olhinhos brilhantes e o nariz colado contra o vidro, os meninos, de calças curtas e suspensório, de joelhos esfolados e cabelo cortado rente, olham enlevados o caminhão de bombeiro vermelho vibrante, a bola de futebol de borracha, as bolinhas de gude coloridas, os piões de madeira. Depois chegam as meninas, de vestido de pique com laço nas costas, franjinha à altura dos olhos e tranças presas com fitas coloridas, sapatos de fivela e meias brancas. Também elas encostam o nariz no vidro da vitrine e ficam fascinadas pelo berço de vime, o bebê de celulóide, e a maior atração está exposta no centro: a grande boneca de louça vestida de noiva.
O armazém de uma porta só anuncia em um quadro de lousa escrito com giz ter recebido nozes, avelãs e passas de uva branca e preta, marmelada e goiabada em lata e os biscoitos sortidos da Duchen, para presente.
A tão esperada “grande noite”, ou “noite feliz”, vai chegando. As crianças conferem diariamente a vitrine do Bazar de Variedades, e constatam que há alguns piões e bolinhas de gude a menos, mas o caminhão de bombeiro e a bola de futebol continuam expostos, assim como a fascinante boneca vestida de noiva.
Era calma e simples a época de Natal no bairro em que vivi minha infância. Todos os vizinhos se conheciam e se cumprimentavam ao se encontrarem, especialmente em épocas festivas. Não lembro de ter visto nenhum dos meninos de nossa rua brincando com o atraente carro de bombeiro, tampouco minhas amigas, incluindo a mim, teve a esperada surpresa de ganhar a boneca vestida de noiva. Mas estas pequenas expectativas não consumadas, logo eram esquecidas.
O Natal da minha infância tinha biscoitos de canela e de mel com cobertura branca... as crianças se alegravam com simples bonecas de pano, celulóide ou porcelana, com bolinhas de gude, pião, bola de borracha. O que importava era a surpresa.
Nos natais antigos, havia música no ar... era a época mais linda do ano com suas cores, seus odores e suas lindas canções.
- Elaine Ikkert Stahlhoefer -
2 comentários:
Tetê querida!
Que delícia ler esse texto.
Realmente era bem assim...
Da uma saudade gostosa.
Abraços!Uma semana abençoada pra ti
Olá dinda! Pensei que tinha perdido o meu blog... graças a Deus, recuperei! Esse seu cantinho continua muito bom! Beijos cintilantes. Morgana
Postar um comentário