Travessura

Que trabalho iria ter, mas com cuidado daria certo, satisfaria o desejo da amiga. Perguntou a altura do corte, marcou a orelha e iniciou.
Tinha sede de conhecimento, aprender era com ela. Agora chegava a vez de tornar-se “madame” aos nove anos. Os longos cabelos pretos e muito lisos de Laurita seriam o desafio, o que não era problema. Bastava a menina querer, uma tesoura amolada e pronto.
O chão cheio de cabelos. As irmãs da garota olhavam-na caladas, desconfiadas. Não se aproximavam da “madame”. Talvez temessem um ataque daquela que tão de repente mudava um visual.
Um pequeno probleminha... na parte de trás, o cabelo ficou bem acima da cabeça... conversa vai, conversa vem, “madame” disse: "vai ficar bonzinho". Continuou, como quem sabe o que faz e acrescentou: “esse corte chama-se “A La homme”, está na moda”.
A menina parecia contente, também não tinha como retroceder, passava a mão na cabeça e perguntava: “ficou mesmo bom, não foi? Mamãe não queria que eu cortasse o cabelo!” Lembrou agitada.
“Madame” ficou assustada, conhecia bem a mãe da colega. Ainda conseguiu dizer: “o bom é que o cabelo cresce, não é?”
Lá vem mamãe!
Chegou, com as mãos no quadril, olhou com indignação para as duas. Parecia sair fogo das narinas. “Que diabo você fez?”
Não obteve resposta.
“Você Laurita me paga! Só sairá de casa quando esse cabelo crescer!"
“Madame” aproveitou o alvoroço e saiu de mansinho, prometendo a si mesma passar um bom tempo sem visitar aquela casa.
Longe, ainda ouviu os gritos da menina quando sua mãe puxava o que restou do seu cabelo.
- Luciene Freitas -

Até amanhã!