Tigresas

“Os tigres escondem-se nas cavernas durante o dia. Só o barulho pode atrair a fúria selvagem dos bichos”. Três meninas conversam à sombra de uma mangueira. De repente uma delas arregala os olhos.
“Ouviram?”
“Eu ouvi!”
“O quê?”
Com leveza de um macaco sobe na árvore, grita:
“Eles estão saindo da toca, parecem famintos, são muitos. Acho bom vocês subirem aqui no alto, ficaremos protegidas”.

Uma daquelas crianças visita aquele sítio pela primeira vez e escuta com atenção o que lhe dizem as anfitriãs.
“Não consigo subir, tenho medo de altura”.
“Minha filha, se você não quiser ser estraçalhada pelos tigres é bom ir subindo”.
“Quero ir embora!”

A garota do alto assiste a colega chorar assustada, enquanto sua prima ajuda a apavorar a visitante.
“Segura no galho, te suspendo”.
“Não consigo!”
“Pois vou subir agora”.
A infeliz menina não tinha jeito para escaladas. Ao ver a segunda pendurar-se na mangueira e sumir nas folhas, entra em pânico.
“Meu Deus, me acuda! Vou morrer! Estou perdida!”
“Faça silêncio. Deixe-me olhar outra vez: estão voltando para a caverna. Vamos dar um tempo. Fico vigiando, logo a levaremos para casa”.

Descem da árvore, ufa! Sônia está salva. Não demonstra alegria, caminha calada com as mãos na cabeça. De cara fechada resmunga: “nunca mais volto aqui!”
As tigresas com um sorriso cúmplice olham-se desconfiadas.
- Luciene Freitas -

Até amanhã!