terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Senhores das palavras



Palavras podem impressionar mais do que fatos. Descobri isso quando as pessoas discutiam lançando palavras como dardos sobre a mesa na sala de jantar. Nessa época meus olhos mal alcançavam o tampo da mesa, e o mundo dos adultos me parecia fascinante. O meu era por demais limitado por horários,(...) regras tediosas(...) e a escola era um fardo: seria tão mais divertido ficar lendo debaixo das árvores no jardim de casa.
Mas em compensação na escola também se brincava com palavras: lá, como em casa, havia livros, e neles as palavras eram caramelos saborosos ou pedrinhas coloridas que a gente colecionava, olhava contra a luz, revirava no céu da boca... às vezes cuspia na cara de alguém de propósito, para machucar.
(...)
Palavras ofendem ou assustam mais do que a realidade. Palavras servem para mal entendidos que magoam anos mais tarde, quando alguém nos cobra: “Você aquela vez disse que eu...” “De jeito nenhum, eu jamais diria uma coisa dessas...” “Mas você disse...” “Nunca, eu tenho certeza absoluta!” Mas não tinha havido testemunhas e a memória é enganosa. Seja como for, a dor tinha marcado a fogo.
Agora não quero falar nisso”, dizemos. Mas a gente devia falar exatamente disso que nos assusta e nos afasta do outro. O silêncio quando devíamos falar, a palavra errada quando devíamos ter ficado quietos: instauram-se o drama da convivência e a dificuldade do amor.
Sou dos que optam pela palavra sempre que é possível. (...) Em geral é melhor do que o silêncio crispado e as palavras varridas embaixo do tapete.
Não falo do silêncio bom em que se compartilha ternura e entendimento. Falo do silêncio ressentido em que se acumula amargura e se distanciam como estranhos os que partilham da mesma sala, mesma cama, mesma vida.
(...)
A palavra faz parte da nossa humana essência: com ela nos acercamos do outro, apaziguamos, ferimos e matamos.
(...)
Viemos ao mundo para dar nomes às coisas, senhores delas ou enganados através delas quando mal usadas, servos de quem as manipula contra nós.
- Lya Luft -


Como sempre que posto uma crônica da Lya Luft, precisei editar o texto devido ao seu tamanho. Leia na íntegra “Senhores das palavras”, no livro “Em Outras Palavras”.

Até amanhã!

4 comentários:

Anônimo disse...

oie amiguinha...esse texto me lembra algo..prefiro nao citar..desculpa..mas o texto nos mostra um valioso aprendizado... Bjinhux fike com Deus..e obg pelo krinho :)

Anônimo disse...

Que delícia de texto Teteca!

Anônimo disse...

Oi minha linda, passando aqui para te deixar um beijo carinhoso e adorei o texto. Fique com Deus.
Tina

Semeando disse...

Bom dia, Tetezinha querida
mudei o layout do meu blog de novo e gostaria de lhe oferecer o meu novo selinho...
pega lá!
bjs e fique com Deus.